Afinal, o que acontece ao nosso corpo quando temos um ataque de pânico? Perguntámos a um psiquiatra
- Ana Rita Rebelo
- 18 de jun.
- 5 min de leitura
No Dia Internacional do Pânico, assinalado a 18 de junho, a hAll falou com o psiquiatra João Pedro Lourenço sobre uma realidade que afeta milhões de pessoas em todo o mundo.

Surge de forma súbita e é irracional, mas o impacto no corpo é bem real. Tremores, falta de ar, náuseas, palpitações, suores, tonturas, formigueiros, medo de enlouquecer ou até de morrer. Tudo isto são sintomas de pânico e ninguém está livre de senti-los.
"Em aproximadamente 50% dos casos, as crises de pânico surgem de forma inesperada, sem estímulo externo, podendo ocorrer em qualquer local, contexto ou hora, inclusivamente durante o sono", conforme explica o psiquiatra João Pedro Lourenço, da Sociedade Portuguesa de Psicossomática, em entrevista à hAll, a propósito do Dia Internacional do Pânico, que se assinala esta quarta-feira, 18 de junho. Porém, sabe-se que "o risco está aumentado em pessoas
com predisposição familiar, que abusem de substâncias tóxicas ou com estilos de vida caracterizados por níveis elevados de stress", diz.
Sublinha também que "o pânico, tal como outros fenómenos relacionados com saúde mental, não é um sinal de fraqueza". "Trata-se de uma experiência aterradora para quem a vive. No entanto, não é uma sentença vitalícia, uma vez que existem tratamentos muito eficazes para prevenir a sua recorrência", esclarece o João Pedro Lourenço.
O que é um ataque de pânico? Quais as causas e fatores de risco?
Um ataque de pânico é uma experiência de medo súbita e intensa acompanhada de sintomas
físicos como tremores, falta de ar, náuseas, palpitações, suores, tonturas e formigueiros, tendo
ainda de estar presente medo de morrer, de ter um ataque cardíaco, de perder o controlo ou
de enlouquecer. As causas não são totalmente conhecidas, mas pensa-se que estarão
envolvidos fatores biológicos, psicológicos e ambientais. O risco está aumentado em pessoas
com predisposição familiar, que abusem de substâncias tóxicas ou com estilos de vida caracterizados por níveis elevados de stress.
O que despoleta ataques de pânico?
Os ataques de pânico podem surgir após exposição a eventos com marcada carga emocional
ou a objetos/atividades fóbicas, após recordar eventos traumáticos ou em períodos de maior
exigência ou mudanças significativas. No entanto, em aproximadamente 50% dos casos, as
crises de pânico surgem de forma inesperada, sem estímulo externo, podendo ocorrer em
qualquer local, contexto ou hora, inclusivamente durante o sono.
Podem durar quanto tempo?
Apesar de se tratar de uma experiência percecionada como interminável, os sintomas do
ataque de pânico duram no total entre cinco e 30 minutos, atingindo o pico de intensidade muito
rapidamente, entre cinco a 10 minutos após o início. Após o episódio, a pessoa sente-se cansada,
como após um esforço físico intenso ou um grande susto, podendo chorar, descansar ou
dormir um pouco antes de voltar ao estado habitual.
Como reconhecer um ataque de pânico? Como é que se manifesta no corpo?
O ataque de pânico é reconhecível pela associação de sintomas corporais - palpitações, falta
de ar, aperto no peito, tremores, náuseas, suores, tonturas, formigueiros - com o medo de
morrer, ter um enfarte, enlouquecer ou perder o controlo. A magnitude e intensidade da sintomatologia tornam a experiência muito impactante do ponto de vista emocional, pelo que é frequente as pessoas mencionarem que nunca esqueceram quando e onde tiveram o
primeiro ataque de pânico.
Como lidar com um ataque de pânico?
O mais importante é ter presente que, por mais assustadora que seja, esta experiência é
passageira e não constitui perigo de vida. Pode ser benéfico utilizar determinadas técnicas de
controlo da respiração (inspirar e expirar durante três segundos) e de relaxamento muscular,
permanecer no mesmo local até que a crise passe, tentar focar-se num objeto ou ter um
plano pensado previamente do que fazer e pensar quando os sintomas começarem.
O diagnóstico de perturbação de pânico é considerado quando a pessoa tem pelo menos dois ataques de pânico num curto espaço de tempo.
E como ajudar alguém que está a ter um ataque de pânico?
O primeiro passo é manter a calma, falando com uma voz tranquila de forma clara e incisiva e
dizendo que se vai ajudar e o que se vai passar.
Quais os erros que devem ser evitados?
Não se deve minimizar ou ter expressões como "não tens nada" ou "tens de te acalmar", que são invalidantes e contraproducentes. Pode-se ajudar a tomar medicação ansiolítica que possa estar prescrita nas fases agudas, habitualmente uma benzodiazepina, bem como a efetuar técnicas de respiração e de relaxamento muscular.
Após um diagnóstico de perturbação de pânico, qual o passo seguinte?
O diagnóstico de perturbação de pânico é considerado quando a pessoa tem pelo menos dois
ataques de pânico num curto espaço de tempo, sendo que a maioria tem um número maior de
ataques. O passo seguinte é procurar ajuda profissional. O tratamento farmacológico,
alicerçado na escolha de um antidepressivo, é seguro, bem tolerado e extremamente eficaz a
prevenir a recorrência dos ataques. A psicoterapia é essencial para aprender a lidar com as
crises, investigar gatilhos emocionais e relacionais associados e promover a capacidade de
autorregulação emocional.
Todos estamos suscetíveis a ataques de pânico? Quem apresenta maior risco?
Em circunstâncias propícias, qualquer pessoa pode ter um ataque de pânico, estimando-se que
entre 20 a 30% da população tem pelo menos um ao longo da vida. Os ataques de pânico são
mais prevalentes em mulheres, tendendo a surgir entre a adolescência e os 30 anos de idade,
e em pessoas com história de trauma, traços de personalidade ansiosos ou com estilos de vida
mais exigentes.
É possível tratá-los?
Sim, os tratamentos psiquiátricos e psicológicos disponíveis são extremamente eficazes. A
medicação antidepressiva previne o surgimento de novos ataques, a intensidade dos sintomas
e a ansiedade antecipatória. Em 60 a 80% dos casos verifica-se uma redução significativa da
frequência de ataques, estimando-se uma remissão completa em 40 a 60%, percentagens que
sobem muito significativamente quando também se faz psicoterapia.
Que mitos importa desmistificar sobre o tema?
O pânico, tal como outros fenómenos relacionados com saúde mental, não é um sinal de
fraqueza. Trata-se de uma experiência aterradora para quem a vive. No entanto, não é uma
sentença vitalícia, uma vez que existem tratamentos muito eficazes para prevenir a sua
recorrência, lembrando que os fármacos usados são bem tolerados e habitualmente
necessários apenas temporariamente. A perturbação de pânico pode evoluir para agorafobia, quando a ansiedade de locais ou situações em que é percecionada dificuldade de fuga ou impossibilidade de auxílio na eventualidade de se ter um ataque de pânico leva a evitamento de, por exemplo, estar no meio de multidões ou viajar em transportes públicos. A chave é procurar ajuda profissional o mais cedo possível, de modo a evitar a progressão para uma entidade potencialmente muito limitadora da vida quotidiana habitual.
Quem pode e deve contactar em caso de necessidade?
Aconselhamento psicológico do SNS 24: 808 24 24 24 selecionar depois opção 4 (24 horas por dia)
SOS Voz Amiga: 213 544 545 | 912 802 669 | 963 524 660 (15:30 à meia-noite e meia)
Conversa Amiga: 925 512 884 | 925 512 887 | 808 237 327 | 210 027 159 (15 às 22 horas)
Telefone da Amizade: 228 323 535 | 222 080 707 (16 às 23 horas)
Escutatório, Linha de apoio psicológico, Fundação S. João de Deus: 924 101 462 (10:30 às 12:30 e das 14:30 às 16:30)
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