Falámos com uma dermatologista sobre protetor solar (e nem vai acreditar nos erros que pode estar a cometer)
- Ana Rita Rebelo
- 23 de jun.
- 6 min de leitura
Sol, calor e dias mais longos pedem uma coisa: proteção. Mas será que está a usar o protetor solar da forma certa? Falámos com a dermatologista Marta Ribeiro Teixeira, da Clínica Espregueira, para perceber tudo sobre este produto, incluindo as razões que o tornam indispensável, mesmo em dias nublados.

O verão está aí e, com ele, surge aquela vontade de aproveitar os dias quentes ao máximo. Mas será que está a proteger a pele como devia? É que, como desmistifica à hAll a dermatologista Marta Ribeiro Teixeira, "mesmo em dias nublados, dentro do carro ou de casa junto a uma janela, devemos usar protetor solar". "A radiação UVA penetra o vidro e as nuvens", esclarece a especialista da Clínicas Espregueira.
O que é a radiação UV?
A radiação UV é uma radiação invisível e de alta energia emitida pelo sol e que penetra e interage com a nossa pele. A radiação UV que atinge a superfície terrestre divide-se em UVB e UVA. A radiação UV do tipo B penetra apenas até à epiderme, a camada mais superficial da pele, onde é responsável pelo eritema solar (queimadura), em grande parte pelo bronzeado e aumenta, tal como a UVA, o risco de cancro de pele. Relativamente à radiação UVA, esta penetra mais profundamente a pele, até à derme, e, além de aumentar o risco de cancro de pele, vai degradar o colagénio, ser responsável por muitas das chamadas "alergias ao sol" e aumentar o risco de desenvolver manchas. De relembrar que a radiação UVA penetra o vidro e as nuvens. Por esta
razão, mesmo em dias nublados, dentro do carro ou de casa junto a uma janela, devemos usar protetor solar.
A quantidade de FPS na maquilhagem e cosméticos é geralmente menor do que a encontrada em protetores solares.
O que significa o FPS do protetor solar?
Indica-nos o nível de proteção para UVB, responsável pelo eritema solar, traduzindo o número de vezes que o protetor solar aumenta a proteção natural da pele contra as queimaduras solares. Por exemplo: se utilizarmos um fator de proteção 30, significa que multiplicamos a proteção natural por 30, ou seja, a pele demoraria 30 vezes mais tempo a queimar. Ainda assim, isto é, relativo. Tudo vai depender de outros fatores como da hora do dia, do local, da estação do ano, do índice de ultravioleta naquele momento, da transpiração, bem como do fotótipo da pele. Naturalmente que com SPF 50+ estaremos mais protegidos do com 30+. Contudo, um FPS de 30+ já é um bom FPS.
Os cosméticos e maquilhagem com FPS protegem-nos da radiação UV?
Ajudam quando têm na sua composição pigmentos que protegem contra a radiação UV e luz visível.
E dispensam o uso de protetor solar?
Não substituem o uso correto de protetor solar. A quantidade de FPS na maquilhagem e cosméticos é geralmente menor do que a encontrada em protetores solares. Além disso, na maioria das vezes, não protege de forma eficiente contra os raios UVA. Por outro lado, a quantidade de produto que normalmente se usa para maquilhagem não é suficiente para fornecer a proteção completa que um protetor solar oferece.
Como e quando devemos usar protetor solar?
Todos os dias, em todas as estações.
E que quantidade devemos aplicar?
As recomendações são para aplicar a quantidade de dois miligramas por centímetro quadrado. Para o rosto e pescoço usamos frequentemente a regra dos "dois dedos" ou a da "colher de chá", que ajuda de uma forma mais visual e simples a determinar a quantidade de protetor solar necessária. Se aplicarmos uma linha de protetor solar na face palmar dos dedos indicador e médio, essa é a quantidade de protetor que deve ser aplicada na face. Quando à quantidade suficiente para aplicar na face e pescoço. Aqui falamos na regra dos "três dedos". Estamos a falar de bastante quantidade de protetor solar. Infelizmente, ninguém faz isto. Mas, ao aplicarmos uma quantidade insuficiente de protetor solar, não estamos a obter a proteção indicada nas
embalagens. Isso dá-nos uma falsa sensação de segurança.
E ao nível da frequência: devemos reaplicá-lo quantas vezes por dia? E numa ida à praia/piscina?
O protetor solar deve ser aplicado 30 minutos antes da exposição solar e reaplicado ao final de duas horas, assim como após o banho, em caso de praia ou piscina, ou transpiração.
Como escolher um protetor solar e o melhor FPS?
O protetor solar deve ter um FSP de 30 ou mais. Inferior a 30 não é um bom protetor solar. Idealmente deve ter um FPS 50+, oferecer proteção alta contra UVA e UVA-longos e proteger contra a luz visível.
Posso usar o mesmo protetor para o corpo e rosto?
De uma maneira geral, sim. Mas existem protetores solares para rosto que, pelas suas
características e especificidades, vão mais ao encontro das necessidades da pele do
rosto de cada um. Podem, inclusivamente, incluir substâncias que ajudam a matificar, corrigir manchas, ter cor...
E para as crianças? Qual o protetor e a quantidade ideais?
Os protetores solares infantis devem ser hipoalergénicos, adequados a peles sensíveis (como são as pediátricas), e sem fragrâncias que possam causar irritação ou sensibilização da pele. Devem também ser resistentes à água e com fator de proteção elevado (FPS/SPF 50+). Outra questão de extrema importância é que o protetor solar deve oferecer proteção contra UVB e UVA. Deve ser dada preferência a texturas leves e de fácil aplicação, uma vez que isto permite uma aplicação mais uniforme e uma maior aceitação do protetor por parte da criança. A partir dos seis meses, deve ser colocado protetor solar diariamente nas áreas de pele expostas ao sol. De recordar que nesta idade a exposição direta ao sol não é recomendada e deve ser evitada. Relativamente às quantidades indicadas, são semelhantes às recomendações para os adultos. De uma forma mais simplificada e visual, recomendamos uma colher de chá para rosto e pescoço, uma colher de chá para cada braço, uma colher de chá para a parte da frente do tronco e outra para a de trás, uma colher de chá para a parte da frente e outra para a de trás das pernas e uma colher de chá para cada pé.
Para quem tem preocupações sobre o eventual impacto negativo do uso de protetores solares ao nível da saúde ou ambiental, deve optar por protetores solares minerais.
É possível bronzear com fator de proteção 50+?
É! O uso de protetor solar, mesmo em quantidades certas, não protege completamente a pele dos efeitos da radiação UV. Convém aqui relembrar que não existe bronzeado "saudável". Bronzear significa sempre uma resposta da nossa pele ao dano pela radiação UV. Significa que a pele foi agredida e teve de defender-se.
Onde armazenar o protetor solar?
Num local fresco e protegido da luz e humidade como um armário ou gaveta, dentro
de casa, para evitar a degradação dos ingredientes ativos e a redução da sua eficácia.
Pode usar-se o protetor solar do ano passado?
Não, porque já perdeu eficácia.
Qual a diferença entre protetor solar mineral e protetor solar químico?
Antes de mais, importa esclarecer que todos os filtros solares são substâncias químicas, mesmo os filtros minerais (também chamados de físicos). Durante muitos anos pensou-se (e ainda hoje se diz erradamente) que os protetores solares minerais formariam uma barreira física que apenas reflete a radiação UV e que os protetores solares "químicos" seriam responsáveis por absorver a radiação, transformando-a em calor. Hoje sabe-se que não será bem assim. Para sermos mais precisos, deveríamos chamar inorgânicos aos protetores solares minerais, uma vez que não contêm carbono, e orgânicos aos protetores solares "químicos", que têm carbono. Os protetores solares ditos minerais ou físicos não só refletem a radiação UV, como também a absorvem. Por outro lado, filtros orgânicos (comummente chamados de químicos) absorvem sobretudo a radiação UV. De uma forma geral, os protetores solares ditos minerais são normalmente melhor tolerados por peles sensíveis, mas estão classicamente associados a pior cosmeticidade, sendo isto algo tem que vindo a melhorar significativamente com novas formulações. Por outro lado, filtros orgânicos ("químicos") apresentam melhor cosmeticidade, sendo estas formulações associadas a texturas leves e de rápida absorção. Os ditos filtros minerais são, ainda hoje, recomendados a grávidas e crianças até aos dois anos por muitos dermatologistas. Contudo, isto é algo que tem vindo a mudar. Em termos de segurança, considero que os filtros orgânicos de que dispomos na Europa oferecem uma enorme segurança e que estas recomendações em grávidas e crianças vão mudar.
Existem componentes considerados perigosos?
As preocupações com o uso de protetores solares são relativas aos filtros orgânicos ("químicos") e prendem-se com dois aspetos: preocupações ao nível dos seus efeitos na saúde e ambientais, nomeadamente nos oceanos. Em 2020, a FDA [agência do medicamento norte-americana] publicou um estudo, no qual é demonstrado que alguns dos ingredientes presentes nos protetores solares químicos, ao serem absorvidos, são detetáveis na pele e no sangue durante vários dias. Isto levantou questões de segurança, especialmente no caso da oxibenzona, pelos seus potenciais efeitos como disruptor endócrino. Se o uso de protetores solares com filtros químicos, especialmente com oxibenzona constitui um risco para a saúde, ainda não foi comprovado. Além disso, a própria FDA afirma que o benefício da fotoproteção supera o eventual risco inerente à absorção sistémica destas substâncias. Quanto às questões ambientais, estas prendem-se com o facto de, in vitro, a oxibenzona, quando exposta à radiação UV, poder danificar e branquear os corais. Aliás, o Havai proibiu em 2018 a venda de protetores solares com esta substância. Se estes efeitos observados em laboratório também acontecem ao nível dos corais nos oceanos, está por esclarecer. Contudo, para quem tem preocupações sobre o eventual impacto negativo do uso de protetores solares ao nível da saúde ou ambiental, deve optar por protetores solares minerais.
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