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"O choro continua a ser um dos fenómenos humanos mais universais e dos mais reprimidos"

  • Foto do escritor: Ana Rita Rebelo
    Ana Rita Rebelo
  • 23 de abr.
  • 3 min de leitura

A frase é do neuropsicólogo e hipnoterapeuta Alberto Lopes. A propósito do Dia do Choro, que se assinala esta quarta-feira, 23 de março, perguntámos ao especialista o que acontece ao corpo quando choramos e quais os benefícios das lágrimas.



Alguma vez deu por si a chorar no carro depois de um dia difícil, ou porque estava emocionalmente assoberbado, e sentiu que ninguém podia perceber? Para o neuropsicólogo e hipnoterapeuta Alberto Lopes, "o choro continua a ser um dos fenómenos humanos mais universais e, paradoxalmente, um dos mais reprimidos".


"Quantos de nós já seguramos as lágrimas em público, por medo do julgamento, da vergonha ou da imagem que os outros fariam de nós. Parece estranho, mas em pleno século XXI, ainda há quem associe chorar a fraqueza, a instabilidade ou, pior, a dramatismo", refere à hAll o especialista das Clínicas Dr. Alberto Lopes - Psicologia & Hipnose Clínica, no Porto, Aveiro e Lisboa.


Porque choramos?


Choramos quando estamos tristes, magoados, frustrados, mas também quando

sentimos um amor profundo, alívio ou uma alegria que transborda. As lágrimas são

como mensageiras emocionais. Surgem quando o coração já não consegue conter o que

sente.


Chorar faz bem à saúde?


Sim. Existem inúmeros estudos que referem que o choro ativa mecanismos naturais de alívio: liberta oxitocina e endorfinas, hormonas que ajudam a reduzir o stress e a ansiedade. É, na maioria das vezes, o primeiro passo para voltarmos ao equilíbrio interior.


A sociedade ensina-nos, desde cedo, que expressar emoções - especialmente negativas - é mais aceitável nas mulheres.

O que acontece quando reprimimos o choro?


Quando negamos a nós próprios o direito de chorar, acumulamos tensão emocional e

isso não é nada saudável. Uma perda, por exemplo, pode gerar pensamentos como "nunca mais vou ser feliz", o que desencadeia tristeza e, eventualmente, melancolia. Se não libertamos essa tensão emocional, a médio ou longo prazo, isso pode manifestar-se como insónia, irritabilidade, ataques de pânico ou até dores físicas inexplicáveis. O corpo grita o que a alma cala.


É possível identificar lágrimas genuínas das "lágrimas de crocodilo"?


Lágrimas autênticas são sentidas, têm corpo, respiração alterada, emoção visível. As chamadas "lágrimas de crocodilo" são geralmente calculadas, muitas vezes histriónicas, com o intuito de chamar a atenção e sem conexão real com o que está a ser dito. Mas atenção: nem sempre é fácil discernir e nem nos cabe julgar. O importante é desenvolver uma escuta emocional empática.


Existe "choro a mais"?


Se o choro for constante, sem motivo claro e acompanhado por tristeza persistente, pode ser sinal de algo mais profundo, como sinais de depressão, luto não resolvido ou esgotamento emocional. Nesse caso, o melhor caminho é procurar apoio psicológico.


Há quem tenha vergonha de chorar em público?


Infelizmente, sim. Sobretudo os homens, que ainda carregam o peso cultural da ideia de

que "homem que é homem não chora". A sociedade ensina-nos, desde cedo, que expressar emoções - especialmente negativas - é mais aceitável nas mulheres. Estudos mostram que as mulheres tendem a ruminar mais, ou seja, a pensar repetidamente sobre os mesmos problemas, o que contribui para uma maior ativação emocional e, consequentemente, maior labilidade emocional. Já os homens, muitas vezes, recorrem ao evitamento, porque ainda carregam o peso

cultural da ideia de que "homem que é homem não chora". Não porque não sintam, mas porque foram treinados a reprimir. É um condicionamento social que, a longo prazo, pode levar a problemas como depressão, ansiedade ou somatizações. Todos temos o direito de sentir e expressar as emoções.


Que tenhamos a coragem de reeducar o coração para ver nas lágrimas não um sinal de fraqueza, mas de humanidade.

Como desmistificar este estigma?


Este trabalho começa em nós. Devemos transmitir a ideia de que sentir não é fraqueza, mas parte da experiência humana. Nesse sentido, quando validamos as nossas próprias emoções, abrimos espaço para os outros também o fazerem. Falar sobre sentimentos com naturalidade, acolher o choro dos filhos, parceiros, amigos, sem julgamentos. Isso é transformar o mundo, um gesto de cada vez.


Que mensagem gostaria de deixar aos leitores da hAll?


Que tenhamos a coragem de reeducar o coração para ver nas lágrimas não um sinal de

fraqueza, mas de humanidade. Tenho para mim que o choro não é fraqueza, é presença.

É um pedido de escuta, é linguagem simbólica, é libertação emocional e conexão social.

O desafio seria o de aceitar as tuas lágrimas como parte do nosso caminho. E, quando

alguém chorar à tua frente, não peças que pare — oferece silêncio, um ombro amigo

com acolhimento e amor.

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