Dos sintomas aos cuidados a ter. O bê-á-bá das zoonoses
- Ana Rita Rebelo
- 6 de jul.
- 4 min de leitura
As zoonoses representam um risco real, mas muitas vezes ignorado. A propósito do Dia Mundial das Zoonoses, que se assinala este domingo, 6 de julho, falámos com um especialista.

As zoonoses são doenças infeciosas transmitidas de animais para pessoas. E se pensa que são raras, desengane-se. "Estima-se que, globalmente, em cada 10 doenças infeciosas, seis são zoonóticas", conforme explica à hAll Hélder Pinheiro, infeciologista e professor na NOVA Medical School.
Refere também que, "na contabilidade dos diagnósticos de zoonoses no nosso país, há ainda a considerar os casos importados de zoonoses não existentes em território nacional e que estão particularmente relacionadas com o aumento dos fluxos migratórios que chegam a Portugal e a uma tendência crescente de casos associados ao viajante internacional".
O que são zoonoses?
As zoonoses ou doenças zoonóticas referem-se a doenças infeciosas transmitidas, direta ou indiretamente, de animais para o homem.
Como é que as zoonoses se transmitem dos animais para os humanos?
Embora os animais possam transmitir uma infeção diretamente - através de mordedura ou contato com saliva, por exemplo - ou indiretamente - por objetos contaminados com urina ou outros líquidos biológicos - eles servem frequentemente de hospedeiros de agentes patogénicos que são transmitidos posteriormente aos humanos através de um "vetor" intermediário, habitualmente um mosquito, pulga ou carraça, ou através de água ou alimentos contaminados provenientes desses animais.
Quais as zoonoses mais comuns em Portugal?
Tipicamente, as zoonoses são endémicas em certas áreas geográficas e a sua incidência ao longo do ano é influenciada pelo ciclo de vida do animal transmissor, assim como do vetor competente para a transmissão da infeção. Estima-se que, globalmente, em cada 10 doenças infeciosas, seis são zoonóticas. Estão descritas várias dezenas de doenças zoonóticas diferentes em todo o mundo, que incluem agentes etiológicos variados, tais como bactérias, vírus, parasitas e fungos, associados às várias formas de transmissão possíveis.
Em paralelo com o que acontece na Europa, as zoonoses mais frequentes em Portugal têm origem em água ou alimentos contaminados, causadas principalmente por bactérias, sendo algumas das mais comuns as espécies de salmonella (principalmente presentes em ovos e derivados do ovo), a escherichia coli, yersinia e listeria. Esta última tem particular relevância, uma vez que é das doenças zoonóticas mais severas, com elevada percentagem de hospitalizações entre os casos reportados e com uma taxa de mortalidade mais elevada do que as restantes. Outras zoonoses que têm ainda uma expressão significativa no número de casos totais em Portugal são a brucelose, a febre Q (causada pela bactéria Coxiella burnetti), mais frequentemente transmitidas ao homem através do contacto com animais doentes e também a doença de lyme, também conhecida por borreliose e que é transmitida através da picada de uma carraça.
Na contabilidade dos diagnósticos de zoonoses no nosso país, há ainda a considerar os casos importados de zoonoses não existentes em território nacional e que estão particularmente relacionadas com o aumento dos fluxos migratórios que chegam a Portugal e a uma tendência crescente de casos associados ao viajante internacional. São bons exemplos destes agentes zoonóticos a febre tifóide, a malária e a dengue. Estes achados enfatizam a necessidade de continuar a sensibilizar o público para as questões de segurança alimentar e os riscos de transmissão de doenças endémicas em destinos com padrões de segurança e higiene alimentares e controlo dos vetores menos rigorosos do que na Europa.
A vacina contra a raiva é um dos exemplos de sucesso da vacinação de animais domésticos na eliminação de uma zoonoses.
Quais os sintomas a que devemos prestar atenção?
Apesar destas infeções diferirem muito na forma como se apresentam, os casos sintomáticos tipicamente surgem com febre, sintomas gripais e, frequentemente, com rash cutâneo. Em alguns casos, a doença pode apresentar formas mais graves com alterações da coagulação e falência de órgãos.
Qual é a importância da vacinação dos animais domésticos na prevenção das zoonoses?
Algumas das zoonoses podem ser preveníveis por vacinação dos animais que estão habitualmente associados a algumas destas infeções. A vacina contra a raiva é um dos exemplos de sucesso da vacinação de animais domésticos na eliminação de uma zoonoses. Desde 1961 que Portugal é considerado um país livre de raiva, apesar da vacinação ainda ser obrigatória para impedir a introdução da infeção por animais proveniente de países onde é esta é endémica.
Quem são as pessoas mais vulneráveis às zoonoses?
Algumas populações são particularmente vulneráveis a formas de infeção mais severas e fatais. As crianças, os idosos e doentes imunocomprometidos podem desenvolver formas severas e invasivas. Apesar da listeriose, por exemplo, ser habitualmente uma infeção ligeira, os subgrupos destas populações têm um risco elevado de formas mais severas de listeriose como a septicemia e a meningite.
Que cuidados devemos ter no contacto com animais para prevenir infeções?
Algumas zoonoses, como febre amarela, dengue e febre tifóide, são preveníveis por vacinação ou através da utilização profilática de antimicrobianos (como quimioprofilaxia da malária com medicamentos antimaláricos). Contudo, algumas medidas gerais têm um papel muito importante na prevenção de zoonoses, nomeadamente a desinfeção das mãos após o contacto com animais potencialmente portadores/infetados com um agente zoonótico, assim como a higiene e confeção adequada dos alimentos e o consumo de água engarrafada. A prevenção de picadas ou mordeduras de insetos, carraças ou pulgas, é uma estratégia fundamental, principalmente em viagens para países onde a incidência de doenças transmitidas por este vetores é elevada. A utilização de repelentes de insetos, de vestuário protetor e a utilização de redes mosquiteiras são medidas populares e eficazes.
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