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Ambiente de trabalho tóxico. Como lidar com quem nos faz mal?

  • Foto do escritor: Ana Rita Rebelo
    Ana Rita Rebelo
  • 1 de mai.
  • 4 min de leitura

Quais os sinais que apontam para um ambiente de trabalho tóxico? A propósito do Dia do Trabalhador, que se assinala esta quinta-feira, 1 de maio, falámos com a psicóloga clínica Andreia Filipe Vieira.



Liderança autoritária, competição desleal entre colegas e elevada rotatividade. Estes são apenas alguns dos sinais que apontam para um ambiente de trabalho altamente tóxico.


"O mundo do trabalho está a tornar-se cada vez mais exigente, impessoal e volátil", diz a psicóloga clínica Andreia Filipe Vieira à hAll, a propósito do Dia do Trabalhador, que se assinala esta quinta-feira, 1 de maio. Sublinha que "as pressões constantes para o desempenho e a produtividade, muitas vezes acompanhadas de instabilidade contratual, contribuem para climas organizacionais tensos".


Face este cenário, a psicóloga é perentória ao afirmar que a toxicidade do ambiente de trabalho pode ter "efeitos devastadores" nos funcionários. Lembra ainda que "pedir ajuda não é sinal de fraqueza, mas de lucidez e coragem", acrescentando que "ignorar o sofrimento apenas contribui para que ele se instale de forma mais profunda".


A hostilidade no local de trabalho está a aumentar?


Sim, parece haver um aumento da perceção de hostilidade no local de trabalho, embora isso

possa dever-se não só a um aumento real da toxicidade, mas também a uma maior sensibilização para os temas da saúde mental e dos direitos laborais. O mundo do trabalho está a tornar-se cada vez mais exigente, impessoal e volátil. As pressões constantes para o desempenho e a produtividade, muitas vezes acompanhadas de instabilidade contratual, contribuem para climas organizacionais tensos. O espaço laboral torna-se um palco onde ansiedades, defesas e dinâmicas inconscientes manifestam-se muitas vezes sem reconhecimento. A hostilidade pode ser a expressão visível de angústias não elaboradas, tanto individuais como institucionais.


No seu entender, quais as "bandeiras vermelhas" que ajudam a identificar um ambiente de trabalho tóxico?


Há vários sinais que podem indicar toxicidade no ambiente de trabalho. Alguns dos mais

frequentes incluem comunicação marcada por sarcasmo, críticas destrutivas ou silêncio punitivo; cultura de medo e punição, em vez de diálogo e colaboração; elevada rotatividade de pessoal; competição desleal ou sabotagem entre colegas; liderança autoritária, sem espaço para expressão emocional ou escuta; e sentimentos persistentes de insegurança, desvalorização ou exaustão emocional.


Como lidar com um chefe tóxico? Que comportamentos são comuns neste tipo de liderança?


Lidar com chefias pode ser um desafio, principalmente se existe um desequilíbrio e um abuso

de poder. Comportamentos abusivos existem em casos de controlo excessivo, manipulação

emocional, desvalorização constante ou até humilhação perante colegas. Nestas situações, é

fundamental reforçar os próprios limites psíquicos: reconhecer que o problema não está em

si, procurar apoio em colegas de confiança e, sempre que possível, documentar episódios de

abuso ou comportamentos disfuncionais.


Um ambiente de trabalho tóxico pode ter efeitos devastadores, tanto físicos como psíquicos. A exposição prolongada ao stress relacional pode levar à ansiedade, depressão, insónia, somatizações e, claro, burnout.

E quando o problema são os colegas de trabalho?


Quando o problema está nos pares, as dinâmicas tendem a ser mais subtis, mas igualmente

corrosivas. Pode haver exclusão social, alianças tóxicas, competição desmedida ou passivo-

agressividade. Muitas vezes, são expressões de rivalidade ou frustração não conscientes.

O primeiro passo é reconhecer os efeitos que essas dinâmicas têm em si, tanto no corpo como

no pensamento. Tentar manter uma postura ética e coerente. Se possível, deve procurar criar

alianças saudáveis e não hesitar em procurar mediação institucional ou apoio psicológico,

quando necessário. Embora não existam soluções mágicas, há estratégias que podem ajudar:


  • Autoconhecimento: perceber os próprios limites, padrões emocionais e gatilhos;

  • Apoio emocional: procurar terapia, grupos de apoio ou amigos de confiança;

  • Assertividade: aprender a comunicar necessidades e limites de forma clara e assertiva;

  • Avaliação das opções: nem sempre é possível mudar o contexto, mas é possível mudar de contexto, e isso inclui procurar outro emprego, quando viável.


Quais os efeitos no trabalhador? Pode levar ao burnout?


Sem dúvida. Um ambiente de trabalho tóxico pode ter efeitos devastadores, tanto físicos como psíquicos. A exposição prolongada ao stress relacional pode levar à ansiedade, depressão, insónia, somatizações e, claro, burnout, um esgotamento emocional, mental e físico provocado por um excesso de exigência sem o correspondente suporte). O burnout pode ser visto como um colapso da capacidade de contenção psíquica A pessoa, muitas vezes inconscientemente, tenta "dar tudo" para ser reconhecido ou aceite, até ao ponto de se esvaziar completamente e chegar ao limite.


Em que situações se deve pedir ajuda médica?


Sempre que houver sinais persistentes de sofrimento, como tristeza profunda, crises de

ansiedade, perda de prazer nas atividades, isolamento social. alterações de sono e apetite,

ideação suicida, ou incapacidade de manter o funcionamento diário. É essencial procurar

ajuda profissional. Pedir ajuda não é sinal de fraqueza, mas de lucidez e coragem. Ignorar o

sofrimento apenas contribui para que ele se instale de forma mais profunda.


Que mensagem gostaria de partilhar com os leitores da hAll?


Sublinho que o sofrimento no trabalho não deve ser normalizado. Passamos grande parte das nossas vidas neste contexto e ele molda profundamente a nossa identidade, autoestima e saúde mental. É importante lembrar que temos direito a trabalhar com dignidade, respeito e segurança emocional. E que, por vezes, é necessário escutar o desconforto como um sinal de que algo que precisa e merece mudar. O nosso corpo dá-nos sempre sinais e não os devemos ignorar. Quando não o respeitamos, um dia ele força-nos a parar.


Quem pode e deve contactar em caso de necessidade?


Aconselhamento psicológico do SNS 24: 808 24 24 24 selecionar depois opção 4 (24 horas por dia)


SOS Voz Amiga: 213 544 545 | 912 802 669 | 963 524 660 (15:30 à meia-noite e meia)


Conversa Amiga: 925 512 884 | 925 512 887 | 808 237 327 | 210 027 159 (15 às 22 horas)


Telefone da Amizade: 228 323 535 | 222 080 707 (16 às 23 horas)


Escutatório, Linha de apoio psicológico, Fundação S. João de Deus: 924 101 462 (10:30 às 12:30 e das 14:30 às 16:30)

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