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Como identificar uma mãe narcisista? Questionámos uma psicóloga

  • Foto do escritor: Ana Rita Rebelo
    Ana Rita Rebelo
  • 4 de mai.
  • 5 min de leitura

Preocupação e exigência ou sinais de narcisismo? O Dia da Mãe, que se assinala este domingo, a 4 de maio, foi o pretexto para uma conversa com a psicóloga clínica Ana Correia, do Coletivo Transformar, que esclarece esta e outras questões.



Narciso, obcecado pelo sua própria imagem refletida na água, morreu a contemplar-se. Pelo

menos, é o que diz o conhecido mito grego. No entanto, o que parece um traço de personalidade é, na verdade, uma perturbação, como esclarece à hAll a psicóloga clínica Ana Correia, do Coletivo Transformar, referindo-se ao narcisismo. O que talvez não imagine é que pode ter sido educado por um e o custo é o seu bem-estar.


"Normalmente, as pessoas percebem que cresceram neste ambiente quando se sentem bloqueadas na vida adulta. Por exemplo, quando há um padrão rígido de autocrítica, incapacidade de concluir coisas importantes, dificuldade em valorizar-se e de sair da zona de conforto, dificuldade em colocar limites e desconfiança no estabelecimento de relações", explica Ana Correia. Acrescenta que "estes filhos ficam com um legado narcisista e precisam de recuperar a autoestima, aprender a definir os próprios limites, trabalhar a autonomia e fortalecer a segurança psicológica". "Há necessidade de um trabalho profundo do trauma emocional para que a pessoa redescubra e reacredite no seu valor pessoal", reforça ainda.


O que é uma mãe narcisista? É um transtorno?


Este termo está relacionado com uma perturbação da personalidade. Vem associada ao mito de Narciso, que acabou por apaixonar-se pelo seu próprio reflexo na água do rio. Já por aqui, conseguimos perceber que esta perturbação é definida por traços como a centração no próprio, a hipervalorização das capacidades pessoais e uma elevada necessidade de aprovação e admiração por parte dos outros. Nestes quadros, a esperada relação de amor e proteção a um filho fica distorcida. Uma mãe com perturbação narcísica desenvolve um comportamento abusivo. As suas necessidades e desejos sobrepõem-se às dos filhos.


Em particular no caso da relação mãe-filha, a filha pode tornar-se uma rival para a mãe e esta díade ser pautada por uma "luta de poder".

Quais são os comportamentos mais comuns?


A grandiosidade, o egocentrismo e, como explicava, a necessidade de atenção e de um tratamento especial. Com isto, surge uma dificuldade em empatizar com os outros e em ser sensível e sintónico com as suas necessidades e valores, porque a pessoa com perturbação narcísica precisa de ser o centro das atenções. Tudo é sobre ela e os seus grandes feitos. São pessoas muito exigentes, competitivas e críticas, especialmente nas relações próximas. No entanto, esta aparente confiança esconde, muitas vezes, uma elevada vulnerabilidade emocional e, por isso, tendem a usar a manipulação e a vitimização como proteção e satisfação das suas necessidades de superioridade.


De que forma é que afetam os filhos?


Todos nós precisamos de crescer num ambiente onde nos sintamos seguros, gostados, importantes e respeitados. Estes pilares são fundamentais para uma criança começar a descobrir e a construir o seu valor para os outros e para o mundo, mas numa relação com pais narcisistas esta tarefa de desenvolvimento fica comprometida. Os pais narcisistas acreditam que os filhos são uma extensão de si mesmos e, por isso, a função dos filhos é enaltecer ainda mais o valor dos pais. Criam padrões de exigência muito elevados para os filhos, que muitas vezes resultam em desvalorização e crítica. Há uma dificuldade de criar um vínculo estável de afeto, conexão e proteção. Passa a haver um vazio nessa relação porque estes pais tendem a subestimar as necessidades e capacidades dos filhos. Não lhes dizem como eles são importantes e cheios de valor e fazem-nos sentir abandonados nos desafios da vida, sozinhos e imperfeitos. Cresce-se naquele ambiente do "nunca sou bom o suficiente" e isto fica impresso na autoestima destes filhos. Em particular no caso da relação mãe-filha, a filha pode tornar-se uma rival para a mãe e esta díade ser pautada por uma "luta de poder", resultando em conflitos e discussões.


Normalmente, as pessoas percebem que cresceram neste ambiente quando se sentem bloqueadas na sua vida adulta.

Como lidar com uma mãe narcisista?


É um processo desafiante, no qual é preciso encontrar muita força interior para se ter o próprio lugar junto de uma pessoa que ocupa muito espaço. Acima de tudo, o mais importante é que os filhos aprendam a identificar as próprias emoções, necessidades e valores, e comecem a expressá-los com assertividade. Nestas relações é importante criar independência gradualmente e colocar limites firmes que protejam da manipulação. Também é importante que os filhos se dediquem a fazer coisas que gostam e onde podem experimentar os seus sucessos e conquistas, e que encontrem outras relações onde aprendam a construir um significado mais saudável de si próprios e de amor incondicional.


Quando pedir ajuda?


Normalmente, as pessoas percebem que cresceram neste ambiente quando se sentem bloqueadas na vida adulta. Por exemplo, quando há um padrão rígido de autocrítica, incapacidade de concluir coisas importantes, dificuldade em valorizar-se e de sair da zona de conforto, dificuldade em colocar limites e desconfiança no estabelecimento de relações. Estes filhos ficam com um legado narcisista e precisam de recuperar a autoestima, aprender a definir os próprios limites, trabalhar a autonomia e fortalecer a segurança psicológica. Há necessidade de um trabalho profundo do trauma emocional para que a pessoa redescubra e reacredite no seu valor pessoal. Não é possível eliminar o vazio dos primeiros anos de vida, mas é possível ajudar a pessoa a encontrar um novo significado de si própria. Quando esse crescimento acontece, é muito libertador!


A intervenção psicológica também deve ser direcionada às mães?


Sim, embora seja difícil que reconheçam este padrão disfuncional e aceitem ajuda. As mães narcisistas têm muita dificuldade em aceitar uma crítica e as recomendações para terapia podem ser mal entendidas e exacerbar os seus mecanismos de proteção. No entanto, é importante que as pessoas à volta, de uma forma engenhosa, sem crítica e usando exemplos de terceiros, possam convidar a procurar psicoterapia para que a mãe narcisista consiga trabalhar a sua autoestima, as suas vulnerabilidades emocionais e os seus padrões relacionais. O objetivo é que consiga encontrar formas mais saudáveis de se sentir valorizada, sem inferiorizar os outros, e de criar vínculos mais estáveis e seguros.



Falar destes temas é importante?


Sem dúvida. A literacia em saúde mental é um superpoder para as pessoas e para o funcionamento em sociedade. Conhecer estes perfis e as características destas relações pode fazer com que as pessoas ganhem consciência da qualidade das suas relações e ajudar a quebrar ciclos disfuncionais. Acima de tudo, lembro que as relações seguras são aquelas onde nos sentimos vistos, valorizados e respeitados. Quando isso não acontece, é uma bandeirinha de alerta para pedir ajuda.

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