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Falámos com o designer português que recriou a Death Star em LEGO

  • Foto do escritor: Ana Rita Rebelo
    Ana Rita Rebelo
  • 26 de set.
  • 6 min de leitura

A hAll esteve à conversa com César Carvalhosa Soares sobre o processo de criação, a atenção ao detalhe e a emoção de ver os fãs a interagir com o resultado do seu trabalho.


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César Carvalhosa Soares cresceu rodeado de tijolos LEGO. No chão do quarto erguia cidades, recriava ruas e edifícios conhecidos, incluindo a sua própria casa. "As peças LEGO sempre fizeram parte da minha vida", lembra em entrevista à hAll. Mas, como tantas histórias de infância, também esta foi interrompida, até que um episódio de "The Big Bang Theory" mudou tudo. "Deparei-me com uma das personagens a construir um set LEGO Star Wars — curiosamente o Death Star II — e foi nesse momento que a minha paixão reacendeu."


Pouco depois, descobriu a Comunidade 0937, um grupo português de fãs adultos da LEGO, e percebeu que podia transformar aquela paixão em profissão. Candidatou-se a uma vaga de model designer no grupo LEGO e conseguiu.. "Comecei a trabalhar na equipa LEGO Star Wars, onde me mantenho até hoje", conta. Hoje, é um dos criadores do novo LEGO Star Wars Death Star – Ultimate Collector Series, o maior de sempre.


Trabalhar nesta nova Death Star representou, para o designer português, um privilégio e um desafio. "Queríamos propor algo distinto, que permitisse ver todos os ambientes de forma simultânea, quase como uma maquete cinematográfica", afirma.


Como surgiu a oportunidade de integrar o grupo LEGO?


As peças LEGO sempre fizeram parte da minha vida. Quando era criança, eram o único brinquedo que me fascinava, e passava horas a construir cidades, sobretudo a recriar os edifícios que conhecia, incluindo a minha própria casa. Aos 13 anos, entrei na chamada "dark age", aquela fase em que muitos miúdos deixam de brincar com LEGO. No meu caso, durou cerca de 25 anos. Mas tudo mudou em 2014, quando, enquanto via um episódio de The Big Bang Theory, me deparei com uma das personagens a construir um set LEGO Star Wars - curiosamente o Death Star II. Foi nesse momento que a minha paixão reacendeu.


Pouco depois, descobri o mundo dos AFOL (Adult Fans of LEGO) e juntei-me à Comunidade 0937, um grupo de fãs da marca, à qual serei sempre grato. No final de 2015, decidi candidatar-me a uma vaga de model designer no grupo LEGO. O processo de recrutamento foi exigente e entusiasmante, com várias entrevistas, testes e desafios, incluindo um workshop de dois dias em Billund, na Dinamarca. Mas valeu a pena: comecei a trabalhar na equipa LEGO Star Wars, onde me mantenho até hoje.


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Como foi trabalhar no desenvolvimento deste set, set destinado a colecionadores exigentes e fãs de Star Wars?


Foi um desafio incrível e também um privilégio. Desde cedo, sabíamos que havia uma grande expectativa em torno de uma nova Death Star, por isso quisemos propor algo diferente das versões anteriores, que eram muito semelhantes entre si. A solução do formato do modelo surgiu cedo e revelou-se ideal: permite ver todos os ambientes de forma simultânea, quase como uma maquete cinematográfica. Isso deu ao modelo uma identidade própria, mantendo-se fiel ao espírito do filme. Claro que existe pressão, pois os fãs de Star Wars e os colecionadores LEGO são muito exigentes. Mas essa pressão é também motivadora. O objetivo não era apenas criar um modelo impactante, mas garantir que a experiência de montagem fosse intuitiva e lógica. Por isso, cada sala foi pensada de acordo com a narrativa - desde o compactador de lixo na base até à sala do trono no topo. No final, ver o resultado e imaginar este set a ocupar um lugar de destaque nas coleções e casas dos fãs é extremamente gratificante e acaba por ser a melhor resposta possível à pressão.


Enquanto designer, que elementos deste set considera mais inspiradores, quer seja ao nível da escala, proporção ou até detalhes?


Ao nível do design, um dos meus elementos favoritos do set foi a área do superlaser. Gostei tanto do desafio de perceber como o construir, como de conectar o superlaser à Death Star. Contudo, o meu elemento favorito, e aquele que mais me inspira, é o Shuttle Imperial. É um modelo dentro do próprio modelo e oferece uma sensação de escala muito especial. Desde criança, sempre considerei esta nave icónica, e vê-la integrada no hangar da Death Star™ dá uma dimensão totalmente nova à construção - quase como recriar uma cena diretamente do filme. Além disso, tive o desafio extra de encaixar o piloto no cockpit e, possivelmente, o Darth Vader na parte de trás da nave, o que torna o resultado ainda mais gratificante. Também me inspirou a forma como a escala e a proporção do set ajudam a contar uma história. As salas, além de mais fundas e altas do que na maioria dos outros sets LEGO, estão cheias de detalhe e posicionadas de forma lógica, em sintonia com a narrativa dos filmes.


"É quase surreal ver os fãs a montar um set que eu próprio ajudei a criar."

Que soluções criativas encontrou para traduzir momentos icónicos de Star Wars em peças LEGO?


Uma das partes mais interessantes deste projeto foi trazer algo de novo aos fãs de LEGO Star Wars, diferente das duas Death Star já existentes, e que permitisse recriar momentos icónicos da saga. A solução de não fazer o set em formato esférico surgiu quando o nosso Concept Designer fez um esboço que acabou por se aproximar muito do modelo final. Foi uma ideia que nos fez todo o sentido: era totalmente diferente do que já tinha sido feito, permitia ver todas as salas de uma só vez e resolvia um problema que, calculo, muitos fãs têm: falta de espaço em casa para dispor os sets.


Depois surgiram vários desafios ao longo do design, especialmente na disposição das salas, que tinha de respeitar a narrativa do filme. A sala do compactador de lixo tinha de ficar na base, a sala de controlo no meio e a sala do trono no topo. Assim, mesmo num set tão grande e detalhado, o fã consegue identificar de imediato onde cada cena acontece. Outro desafio foi garantir que elementos muito reconhecíveis - como o superlaser, o hangar com o Shuttle Imperial ou a ponte onde ocorre o duelo final entre Luke e Vader — fossem não só visualmente fiéis, mas também sólidos e divertidos de montar. Em alguns casos, a solução passou por usar peças de maneiras pouco convencionais, para captar o máximo de detalhe sem comprometer a estabilidade.


Como equilibrar funcionalidade com estética e realismo num set tão complexo?


Esse equilíbrio foi, provavelmente, um dos maiores desafios. A Death Star é um ícone da saga, mas também um palco de ação com muitas cenas diferentes. Desde cedo, sabíamos que a estética tinha de impressionar, sem que a funcionalidade ficasse comprometida. Afinal, os fãs não querem apenas reconhecer os cenários, mas também interagir com eles. O formato do set foi uma solução criativa que conciliou esses dois mundos: oferece impacto visual imediato, mantendo os espaços abertos e acessíveis. Isso permite, ao mesmo tempo, uma leitura clara dos ambientes e uma experiência de montagem divertida. No hangar com o Shuttle Imperial, por exemplo, tivemos de pensar tanto na proporção correta da nave e da porta, como na forma de integrar mecanismos estáveis e funcionais. Outro detalhe foi o fundo estrelado do hangar, que além de reforçar a estética cinematográfica, resolveu importantes questões estruturais.


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O que sente ao ver colecionadores a montar um set que ajudou a desenhar?


É uma sensação realmente indescritível. Há cerca de 10 anos, era eu quem estava sentado no sofá, fascinado ao ver o Sheldon, em The Big Bang Theory, construir a segunda LEGO Star Wars Death Star. Hoje, poder ver os fãs a montar um set que eu próprio, com uma equipa incrível, ajudei a criar é quase surreal. É como se a paixão que me trouxe de volta ao universo LEGO se tivesse transformado numa oportunidade de retribuir, oferecendo agora aos outros a mesma inspiração e entusiasmo que eu senti naquele momento.


Como é que este projeto se compara a outros trabalhos de design que já tenha realizado?


Cada projeto tem os seus próprios desafios e particularidades, mas a Death Star foi, sem dúvida, algo único. Não só pela dimensão - trata-se do maior set LEGO Star Wars até hoje - mas também pela ambição criativa. Desde cedo, sabíamos que não podíamos simplesmente repetir o que já tinha sido feito: era preciso oferecer aos fãs algo novo e uma abordagem diferente deste ícone da saga. O formato do modelo foi uma das grandes diferenças. Permitiu-nos equilibrar escala, funcionalidade e impacto visual, criando um modelo que é, ao mesmo tempo, peça de exposição e palco de cenas memoráveis. Além disso, a riqueza de ambientes e personagens deu-nos uma oportunidade rara: recriar praticamente toda a narrativa de Star Wars: A New Hope dentro de um único set. Essa densidade de detalhe e storytelling torna-o realmente distinto de todos os outros trabalhos que já realizei.

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